Luxor é um dos pontos mais populares do turismo no Egito. Automaticamente pensamos em sítios arqueológicos fabulosos, como o Templo de Luxor, o Templo de Karnak, o Vale dos Reis, o Templo de Hatshepsut, os Colossos de Mêmnom.
Na margem oeste, há um tesouro histórico que passa despercebido por muitos turistas e continua a ser ignorado pela maioria das agências de viagem: o Templo de Medinet Habu. É um de meus templos favoritos no Egito. Foi erguido para cultos mortuários a Ramsés III, segundo faraó da Vigésima Dinastia — 1186 a.C. a 1155 a.C. (suposição). Por isso, é chamado também de Templo Mortuário de Ramsés III.
Antes de mostrar ― com muitas fotos ― como é a visita, faço um lembrete: não confunda o famoso Ramsés II com Ramsés III. O templo mostrado agora se liga ao III. É a múmia dele, aliás, que aparece na imagem de abertura deste artigo. (No final, veja uma nota sobre “A Múmia que Grita”.)
Venha comigo. Que Ramsés III nos acompanhe. Se Ramsés II quiser, pode vir também.
A visita
Turistas geralmente chegam aqui depois de apreciarem os Colossos de Mêmnom, devido à proximidade. De repente, surge esta vista incrível:
Uns passos à frente, viramos à esquerda e vemos em cheio o ponto inicial. Ali estão os restos de uma torre fortificada, também conhecida como migdol.
O coração acelera. O que estamos prestes a ver? Quais serão as próximas emoções? Já aprendemos que o Egito está sempre pronto a nos encher de surpresas.
A área a ser explorada, afinal, é ampla: perde apenas para o Templo de Karnak. Para melhor noção, observe esta foto aérea publicada pelo famoso arqueólogo Zahi Hawass:
Imagine agora o templo completo, com todas as enormes paredes e tetos. Por isso ele serviu de abrigo para a população de Tebes durante invasões do Egito na 20ª Dinastia.
Entre comigo no templo
Antes de entrarmos, preciso fazer um alerta. Se for visita em primavera ou verão, tenha cuidado maior com água, protetor solar, óculos de sol e chapéu. Não se esqueça de usar sapatos confortáveis. (Leia depois sobre o uso de água termal no Egito.)
Enfim, entre logo comigo. Sinta o gostoso arrepio de cruzar o portão de acesso. Pode ir tranquilamente, apreciando tudo, porque eu estou a seu lado.
Não confunda: falamos aqui de Ramsés III, não Ramsés II.
Seguimos deslumbrados, sentindo as energias de Ramsés III. Cruzamos grandes pátios abertos e apreciamos estátuas, pinturas e colunas ornamentais. Medinet Habu é conhecido também pelos incríveis relevos, incluindo cenas do faraó celebrando vitórias militares e cenas de cerimônias religiosas.
O primeiro pilone (foto a seguir) leva a um pátio aberto. Um lado é cheio de colunas; o outro apresenta estátuas de Ramsés III como Osíris. O segundo pilone conduz a um peristilo, também com imagens de Ramsés III. Enfim, chegamos ao terceiro pilone por uma rampa em um pórtico em colunas, que depois se abre em um grande hipostilo (sala com colunas que sustentam o teto). É uma pena que o teto desse hipostilo tenha caído.
Um dos detalhes que mais encantam são os coloridos ainda vivos de algumas pinturas. Curiosamente (e ironicamente), a conservação das cores se deve em parte aos primeiros cristãos no Egito, que converteram a área em uma igreja e cobriram com gesso as pinturas que consideravam ofensivas.
Eu sinto arrepios ao olhar para o colorido. Fico a imaginar os artistas na época, durante os trabalhos, talvez sem terem noção de que criavam artes para serem apreciadas milênios depois, prontas para a eternidade. Tenho as mesmas sensações toda vez que visito a tumba de Tutancâmon, no Vale dos Reis, e admiro as pinturas tão vivas nas paredes.
Pausa na leitura
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Saiba mais agora.
Este templo é uma das grandes surpresas para turistas em Luxor.
Para ver mais fotos, visite um álbum especial em meu Google Fotos, com imagens que capturei em uma viagem recente. Aproveite. Inspire-se.
Onde fica
Você já sabe que essa preciosidade fica em Luxor. Veja o mapa abaixo.
A seta verde aponta o Vale dos Reis. A seta azul, o Templo de Hatshepsut. A seta laranja, os Colossos de Mêmnom. Enfim, a vermelha indica o Templo de Medinet Habu. (Por isso eu disse que a visita ao Templo de Medinet Habu geralmente acontece após a ida aos Colossos de Mêmnom.)
Localize agora o templo direto no Google Mapas.
Extra: A Múmia que Grita
A identidade da famosa Múmia que Grita, encontrada no Vale dos Reis, foi um mistério durante muitos anos. Se o corpo apresenta características de nobreza e foi encontrado em um local de sepultamento de nobres, por que mostra claros sinais de desprezo no processo de mumificação? Por que não removeram cérebro e vísceras? Por que o corpo envolvido em pele de carneiro, em vez do fino linho? Por que um mísero caixão de madeira e sem identificação de quem estava dentro? Por que a suposta expressão de agonia e grito?
A série de perguntas parece ter respostas, depois de análises forenses e testes de DNA.
Acredita-se que esse seja um filho de Ramsés III, e que tenha participado no complô do assassinato do próprio pai.
Por que assassinato? Observe depois, mais uma vez, a tal foto que abre este artigo. Eu já disse que a múmia que aparece na montagem é o faraó. Há tecidos ao redor do pescoço: cobrem marcas de um golpe fatal.
Condenado à morte, o suposto filho foi sepultado com desprezo. Não ter a identificação dele no caixão foi, talvez, o pior golpe. Os antigos egípcios acreditavam que a identificação da múmia era essencial para ser reconhecida no Além e seguir a vida na Eternidade. Sem o nome para ser identificado, não mais haveria essa possibilidade.
A expressão de agonia podia mesmo ser a do momento da morte. Mas causas naturais também explicam isso. Devido à mumificação inferior, a gravidade teria agido no corpo, deslocando para baixo o maxilar e as regiões ao redor dos olhos. A aparência final resultaria naquela imagem horrível.
Sinistro, não?
Agora, para relaxar um pouco, conheça uma incrível loja de produtos de alabastro (e outros materiais) que existe na região. Já estive lá várias vezes e comprei uma cópia de um candelabro encontrado na tumba de Tutancâmon.
Que os bons faraós nos acompanhem. Sem múmias que gritam.
GLAUCO DAMAS
Moro na Alemanha (depois de muitos anos em Brasil e Portugal). Atuo como autor desde 2001. Publiquei livros infanto-juvenis, inclusive pela Editora Saraiva. Em 2013, surgiram o primeiro livro técnico e o primeiro guia de viagem.
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